Um rio nasce do nada, tal como as estrelas são douradas e o fogo é incandescente. A água corre, enrola-se e serpenteia. Da nascente até à foz. A vida inteira.

Para pensar

ENTRE AMIGOS

Para que serve um amigo? Para rachar a gasolina, emprestar a prancha, recomendar um disco, dar carona pra festa, passar cola, caminhar no shopping, segurar a barra. Todas as alternativas estão corretas, porém isso não basta para guardar um amigo do lado esquerdo do peito.

Milan Kundera, escritor tcheco, escreveu em seu último livro, "A Identidade", que a amizade é indispensável para o bom funcionamento da memória e para a integridade do próprio eu. Chama os amigos de testemunhas do passado e diz que eles são nosso espelho, que através deles podemos nos olhar. Vai além: diz que toda amizade é uma aliança contra a adversidade, aliança sem a qual o ser humano ficaria desarmado contra seus inimigos.

Verdade verdadeira. Amigos recentes custam a perceber essa aliança, não valorizam ainda o que está sendo construído. São amizades não testadas pelo tempo, não se sabe se enfrentarão com solidez as tempestades ou se serão varridos numa chuva de verão. Veremos.

Um amigo não racha apenas a gasolina: racha lembranças, crises de choro, experiências. Racha a culpa, racha segredos.

Um amigo não empresta apenas a prancha. Empresta o verbo, empresta o ombro, empresta o tempo, empresta o calor e a jaqueta.

Um amigo não recomenda apenas um disco. Recomenda cautela, recomenda um emprego, recomenda um país.

Um amigo não dá carona apenas pra festa. Te leva pro mundo dele, e topa conhecer o teu.

Um amigo não passa apenas cola. Passa contigo um aperto, passa junto o réveillon.

Um amigo não caminha apenas no shopping. Anda em silêncio na dor, entra contigo em campo, sai do fracasso ao teu lado.

Um amigo não segura a barra, apenas. Segura a mão, a ausência, segura uma confissão, segura o tranco, o palavrão, segura o elevador.

Duas dúzias de amigos assim ninguém tem. Se tiver um, amém.

Martha Medeiros
pensador.info

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Incontornável


criss.site.voila.fr

Foge-me o espaço,
foge-me o tempo!
Caio sem asas e com receios.
Vão-se as dádivas d´outrora,
não se encontram dúvidas nem divas
mas as certezas não existem.

Apagam-se as luzes
por todo o terreno.
Sem raízes nem folhas soltas,
por nada resisto,
de tudo me desprendo.

Desfolham-se os livros
de histórias sem enredos;
Descobrem-se os segredos
remotos de outros tempos,
sozinho no sofrimento!

Foge-me o espaço
e não encontro o tempo.
Para onde foi o encanto
de outros momentos?
Foge-me o espaço
e já não tenho tempo
de te ter nos meus braços,
de te ler por dentro...

Alexandre Reis (H1)

8 comentários:

Páginas Soltas disse...

" Foje- me o espaço
e não encontro o tempo"


E neste belíssimo e grandioso poema... faço o meu encontro com a Poesia com letra Maiúscula!


Beijo oh Poeta!

Maria

Nilson Barcelli disse...

Este teu poema é magnífico.
Com imagens muito boas.
Pena não teres colocado a imagem onde te desprendes...
Bfs, abraço.

Luis Ferreira disse...

Vim agradecer e retribuir a visita ao Mar de Sonhos.

Encontri um grandioso poema.

Parabens
Sailing

SILÊNCIO CULPADO disse...

Por muito que nos fuja o espaço é sempre tempo. Ainda que nos restasse pouco tempo de vida ainda era tempo. Porque essa urgência de amor, ou a sua recordação, são a nossa essência e a nossa eternidade.
Um abraço

Unknown disse...

Quantas vezes o espaço e o tempo nos fogem...
Belo poema!

Beijinhos

LuzdeLua disse...

Apagam-se as luzes
por todo o terreno.
Sem raízes nem folhas soltas,
por nada resisto,
de tudo me desprendo

Lindissimo poema.Parabéns!
Passando pra deixar aqui um beijo
Bjs

LuzdeLua disse...

Para onde foi o encanto
de outros momentos?
Foge-me o espaço
e já não tenho tempo

O tempo...esse se esvai
O pior é não o ver passar.
Lindisso. Beijos

Noctivago disse...

Alexandre Reis, obg. por ter aparecido no meu " espaço ". Gostei do que li e vi por aqui.Boa semana.