Um rio nasce do nada, tal como as estrelas são douradas e o fogo é incandescente. A água corre, enrola-se e serpenteia. Da nascente até à foz. A vida inteira.

Para pensar

domingo, 2 de setembro de 2007

As mãos

De Eugénio de Andrade



Que tristeza tão inútil essas mãos
que nem sequer são flores
que se dêem:
abertas são apenas abandono,
fechadas são pálpebras imensas
carregadas de sono.

Pela noite adiante,com a morte na algibeira
cada homem procura um rio para dormir
e, com os pés na lua ou num grão de areia,
enrola-se no sonho que lhe quer fugir.

Cada sonho morre às mãos doutro sonho.
Dez réis de amor foram gastos a esperar;
O céu que nos promete um anjo bêbado
é um colchão sujo num quinto andar.

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