Um rio nasce do nada, tal como as estrelas são douradas e o fogo é incandescente. A água corre, enrola-se e serpenteia. Da nascente até à foz. A vida inteira.

Para pensar

Às vezes é preciso recolher-se. O coração não quer obedecer, mas alguma vez aquieta; a ansiedade tem pés ligeiros, mas alguma vez resolve sentar-se à beira dessas águas. Ficamos sem falar, sem pensar, sem agir. É um começo de sabedoria, e dói. Dói controlar o pensamento, dói abafar o sentimento, além de ser doloroso parece pobre, triste e sem sentido. Amar era tão infinitamente melhor; curtir quem hoje se ausenta era tão imensamente mais rico. Não queremos escutar essa lição da vida, amadurecer parece algo sombrio, definitivo e assustador. Mas às vezes aquietar-se e esperar que o amor do outro nos descubra nesta praia isolada é só o que nos resta. Entramos no casulo fabricado com tanta dificuldade, e ficamos quase sem sonhar. Quem nos vê nos julga alheados, quem já não nos escuta pensa que emudecemos para sempre, e a gente mesmo às vezes desconfia de que nunca mais será capaz de nada claro, alegre, feliz. Mas quem nos amou, se talvez nos amar ainda há de saber que se nossa essência é ambiguidade e mutação, este silencio é tanto uma máscara quanto foram, quem sabe, um dia os seus acenos.
Lya Luft
pensador.info

segunda-feira, 6 de abril de 2009

II Antologia de Poetas Lusófonos




Participo na II Antologia de Poetas Lusófonos, Folheto Edições e Design, com:

Chuva de Verão
Ideias coloridas
Cereja
Lágrimas e sorrisos
Nenhum Ano Novo


A cerimónia de apresentação decorreu a 5 de Abril no Mosteiro da Batalha.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Fevereiro com fim




Era o mês mais longo de todos os meses
o dia nasceu com chuva mas repleto de luz
radiante de esperança que irrompe nas nuvens
e voa mais alto do que almas suspensas.

Ressoa uma mensagem de sorriso entre a voz:
E Constância e Constância e Constância?
um claro Abril, um desprender de medos,
um grito do fundo que enfrenta segredos
um voltar à terra desprendida de estrelas,
à procura das pessoas, dos filhos perdidos
dos gestos tremidos e dos caminhos castigados.
Coisas terrenas de almas sem penas
Em vales trespassados de vila pequena...


Sabes por onde vais? surpreendida pelos rios,
ides ou voltais, à procura dos perdidos
de fado amarrado e em constantes jograis?
Avante se esvai na procura do cais...
de abrigo.
Faz todo o sentido, faz todo o sentido
descobre o sentimento, dá-lhe um motivo.

Alexandre Reis
(Hoje, por quem merece lutar)

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Ainda o tempo, sempre o tempo



Tempostade

"Perguntei ao tempo quanto tempo é que o tempo tem. E o tempo respondeu-me que tem tanto tempo quanto tempo o tempo tem!"

Intemporal. Fiquei na mesma, sem o tempo que o tempo diz que tem.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Inseguro



Convidas o prazer a morar contigo
avisas o teu mais íntimo amigo
e envolves a etiqueta de inseguro.
Achas demasiado inseguro
adaptares-te a um futuro
e preferes o vértice antigo.
Como nunca sabes se corres perigo
tentas respeitar o código
de um mundo inseguro.

Alexandre Reis (X8)

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Lágrima




Chora
Cai a água da tua fonte...
Crescem as margens pela face,
o horizonte.
Deixa-te levar pelo sentimento
de envolver esse rio
da tua alma.
Fica com a feliz sensação
feita em lágrimas de tocar
fere o mal que te fez chorar.
Poderá ter sido uma flor,
pequena pérola sonhadora
preferida a sós,
Gota de tristeza
guiada no mar de sóis
guarda de muitos olhos.
Bola de cristal, luz do dia,
bela estrela caída ao mar
brilhante ao luar.
Nascente de sede
que se evapora e perde...

Alexandre Reis (XZ)