Um rio nasce do nada, tal como as estrelas são douradas e o fogo é incandescente. A água corre, enrola-se e serpenteia. Da nascente até à foz. A vida inteira.

Para pensar

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Por ti



Por ti
faço nascer outro mundo,
apago os cigarros no lume
e ateio outras fogueiras.
Escrevo em todas as cores
Deito-me num manto de flores
e esqueço aventuras, saudades
sem fim.
Por ti
poderei acabar sem vida
na incerteza de um amor
no rio-sangue das veias.
Para sempre irei viver
se souber que qualquer dia
tu saberás do que sou capaz
para te ter.

Alexandre Reis (J8)

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Vozes roucas



Não vale a pena remar contra a maré.
Da gente se faz nada, sem brio mas com garra
para que o povo possa sentir os pés no chão.
As vozes são poucas, abafadas e roucas,
despedem-se dos corpos vazios e discretos
e perdem-se nas estatísticas e na publicidade.

Atrás de uns e de outros circulam os devotos,
soldados paridos de uma pátria de renegados
que se esfregam nos altares da inquisição.
Acima de tudo isto (livre de qualquer suspeita)
espreita Jesus Cristo, deus-homem ressuscitado
nas finanças, na biblioteca e na televisão.

Alexandre Reis (D15CM)

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Chuva de Verão




Sabe tão bem
a chuva de Verão
água do céu vem
molhar o chão.

O sabor que da terra nasce
é tão doce que entorpece.
Acalma-se a poeira, mansa
e um estrondo soa, cansa.

O calor bebe desta chuva
e recolhe nos seios, a fruta.

sabe tão bem
a chuva de prata
corre e encanta
o coração.

Alexandre Reis (J8)

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Humidade



Slips molhados loucos de humidade,
seios destapados de ouro enrolados
nessa areia que é fogo.
Sabe a maresia a luz da noite,
essa lua à solta pela praia
deserta e cheia de ti.
Enrolam-se as cores dos trapos esquecidos
no mar de conchas ávidas de sentidos,
nas ondas intensas do prazer.
Soltam-se pelo corpo mais pedidos
de navegar nas costas, ao vento
na pele da minha sede.
Percorre-me pelos lábios tal loucura
que movimenta e verte água do meu ser;
É a nua chama de sentir.
Olhos semicerrados, ventres colados,
Apertam-se dedos de música tocados
e unem-se as coxas outra vez.
Arrepios provocados, soluços defraudados
Intensas ousadias causadas
que te entreguei.
Dunas esquecidas, húmidas de vida,
enchem os corpos em frenesim
de ondas salgadas.
Cabe à lua quando quiser
oferecer por mim o amor
que me prende à mulher.

Alexandre Reis (H8)

Procurar



Posso ser
um céu aberto,
um espaço distante,
um zé ninguém.

Posso ter
um mundo imenso,
um amor incerto,
nenhum vintém.

Mas como saber
quem me procura
pela sombra dos dias,
na escuridão?

Alexandre Reis (J7)

sábado, 18 de agosto de 2007

Lágrimas e sorrisos



Sentir teus olhos nos meus olhos
Sentir teus lábios sorrir
Sentir lágrimas perdidas nos olhos
Sentir teus olhos sorrir

Sentir o mundo dos teus olhos
para os meus partir
Amar-te por amar teus beijos
Sorrir-te por sorrirem meus olhos
que teus sabem sentir

Sentir teus lábios nos meus lábios
Sentir teus olhos sorrir
Sentir beijos perdidos nos lábios
Sentir teus lábios sorrir

Sentir o mundo dos meus lábios
para os teus partir
Amar-te por amar tuas lágrimas
Sorrir-te por chorarem teus lábios
que meus sabem sentir.

Alexandre Reis (D15)

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Firmamento



Aqui estou finalmente
tão só como sempre.
Sentado, colado, impedido
de conquistar a voz
que, ofegante, se exprime
compulsivamente.
Pregado ao novo mundo
(imóvel a cada segundo)
em que tudo se move
para voltar ao centro.

Num deslocamento impreciso
sem recenseamento ou pré-aviso
voam bandos de pássaros azuis
na dança do fogo.
Tenho-me crucificado em vão,
aos poucos repiso, venero o chão
e peço compreensão!
A cada dia o céu muda de cor,
debotam-no os voos das aves a motor
cruzando oceanos.

Que pode ser dito
a um mundo em conflito?
Zumbidos mudos... Ouvidos interrompidos...
A ânsia de guerrear enfurece
a inconsciência espectacular
e estridente.

À noite
as estrelas entretêm-se a contar
as luzes da rua dos inocentes.
Por cada um(a)
cresce o firmamento.

Alexandre Reis (J8)

Lágrimas do Mondego



Enquanto o encanto não passa
deixo o rio que me atravessa
e escrevo numa folha de plátano
o destino de lágrimas presas.
Envolvo em asas a memória perdida:
vejo em pormenores a luz da vida
e a sombra do instante.
Quebro a fantasia e parto de madrugada,
encontro nas lágrimas do Mondego
as ninfas da História
que ficou parada.

Mil fontes me rodeiam:
água de amor, de guerra bebidas,
topázio e bohémia.
Qual infante de capa e batina vestidas,
pelas ruas vazias, despidas,
à Lusa Atenas me entrego.
Cidade ruína, futuro de Academia,
de ti caem lágrimas ao Mondego,
de longa História e Roma Antiga,
guardadas no cais, em segredo,
nos olhos de rapariga.

Alexandre Reis (F11)

Vem ter comigo



Vem ter comigo
ao lugar incerto
que prometi.
Vem falar do tempo,
do mundo inseguro
que conheci.

Gosto de ver
por entre os ramos
mil segredos.
Gosto de saber
pintar de cor
nossos medos.

Vem subir o monte
de ideias e sonhos
que construi.
Vem criar magia,
fadas e gnomos
no jardim.

Vem ter comigo
ao lugar incerto
que prometi.
Vem falar do tempo,
do mundo inseguro
que conheci.

Alexandre Reis (I3)

Deriva



Há brados de espanto no ar,
borboletas douradas de fantasia
que se inventam por encomenda
e depois se libertam.
Há sorrisos abertos e livres
de infantes criados nas lides
do mar que se enfrenta.
Laços desfeitos em ternura,
um pouco da minha vida
à deriva.

Não vejo mais nada:
tudo cai despido de alma,
solta ou leve nas penas
que se desprendem
das estrelas mais altas,
luzes da ribalta,
galãs de cinema.

É a fama
que escolhe quem chama
e rejeita quem se deita
ao sucesso ou drama
de ser escrita.

Pergaminhos, papiros da Babilónia,
pedaços de ideias e folhas
nas ondas de cada segredo
da nossa vida.
Por aqui caminho, por aqui crio
as magias de uma arte
que navega ao largo
e passa num braco
à deriva.

Alexandre Reis (H1)

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Salobra

Obra de sal,
arte na água,
saborear-te
na tarde calma.


A água da vida
salta e lava,
refresca e dança
por onde passa.
Que cama sentida
deita a palavra
de areia fina,
doce e amarga.
Nesta corrida
quem te ampara?
Onde nasce a foz,
onde pára a água?

Alexandre Reis (Z1)